Do mesmo modo que Proteu, filho dos titãs Oceano e Tétis na mitologia Grega, considerava que cada um poderia fazer seu próprio destino através de suas ações, muitas pessoas passaram a encarar as suas carreiras de uma forma muito diferente. Até menos de uma década atrás a forma dominante de se evoluir em uma carreira profissional era buscando a estabilidade, permanecendo nas empresas o maior tempo possível. As pessoas que tinham variadas experiências profissionais, tendo trabalhado em áreas diferentes, em empresas diferentes, não eram vistas com bons olhos. Entendia-se que era fundamental o foco, a carreira linear. O caminho parecia ser seguir em frente dentro de uma linha de desenvolvimento em uma única empresa, ou em um único campo de atuação.
O mercado se tornou globalizado, as experiências passaram a ser rapidamente compartilhadas por todos, de modo que um jovem profissional de Cingapura tem acesso ao que um profissional sênior do Uruguai tem feito com a sua carreira, se assim for compartilhado. Assim, as oportunidades, os caminhos passaram a ser vistos por muito mais pessoas, e a tendência de permanência por um longo período de tempo em uma mesma organização caiu drasticamente.
A chamada Geração Y já veio para o mercado de trabalho com uma visão de que a mudança não apenas é esperada, mas também desejada. Os caminhos do aprimoramento profissional passaram a ser múltiplas experiências em muitos ambientes, preferencialmente alguma vivência internacional, ou pelo menos contato com os ambientes multiculturais. O dom da premonição de Proteu é transformado pelos novos profissionais na vontade de interpretar os novos rumos do mercado e de buscar os caminhos mais adequados para melhor aproveitar esses novos espaços.
É um grito de liberdade que muitos têm soltado, preferindo caminhar pelas estradas incertas de uma carreira mais empreendedora e desafiadora do que manter-se em um espaço mais previsível e confortável dentro de uma longa carreira em um mesmo ambiente de trabalho.
Este novo tipo de carreira é a chamada Carreira Proteana, em homenagem a Proteu, muito mais cheia de incertezas, de desafios, de turbulências, mas, também, de liberdade.
Muitas são as consequências desse movimento dos profissionais. Uma delas é que profissionais muito bem qualificados e com uma experiência mais rica e completa acabam não tendo interesse em candidatar-se a vagas que outrora certamente seriam preenchidas rapidamente. Esses profissionais acabam buscando eles mesmos vagas pelas quais se interessam e que na maior parte dos casos tem um contexto de maior liberdade envolvido. Muitos acabam desenvolvendo seus próprios negócios, visando atender os seus anseios de crescimento e de liberdade, com os seus valores e seus prazos estabelecidos. Outros, vão unir-se a projetos temporários que tragam uma ação e retorno rápido, fazendo com que haja um sentimento de atendimento aos objetivos propostos, sem demora. E, quando esses objetivos forem atendidos, em muitos casos eles se voltam para outros rumos, para outros caminhos, para outros projetos, que podem ou não ter relação com os que já haviam desenvolvido.
Como lidar com profissionais que valorizam, muitas vezes, mais a sensação de liberdade em suas carreiras do que propriamente os resultados financeiros obtidos? Esse é um dos grandes desafios que o século XXI trouxe ao mercado de gestão de talentos humanos. Cada vez mais se torna necessário buscar novos rumos para as organizações continuarem a atrair e reter esses talentos desta geração “startup”. Este é o novo momento que chegou. Cabe preparar-se para ele.